sexta-feira, maio 30, 2008

Bate-boca e incompreensão no STF


Ontem, quando disse que os ministros do Supremo eram incompreensíveis de propósito estava certo. Mesmo os próprios ministros não entenderam os votos dos colegas na decisão das células-tronco.

Quem não acompanhou a sessão de hoje perdeu um belo show. Cezar Peluso, o mais ininteligível de todos se retratou quando a sessão começou. Ele disse que todo o país não havia compreendido o voto dele. Apesar de ele ter feito ressalvas no seu voto, disse que fez apenas observações, votando integralmente a favor das pesquisas.

O fato gerou discussão no final. Apenas Peluso achava que estava votando com a maioria da Corte, o que os outros ministros não entenderam. Ele chegou a dizer para um deles: "E eu? Por que o senhor está me excluindo?".

Poesia

Terminou então a sessão mais subjetiva e poética do Supremo. Sentirei falta de indagações e puxações de saco eruditas:

Convenhamos: Deus fecunda a madrugada para o parto diário do sol, mas nem a madrugada é o sol, nem o sol é a madrugada. (Carlos Ayres Britto, justificando porque o embrião não é pessoa)

Tal como se dá entre a planta e a semente, a chuva e a nuvem, a borboleta e a crisálida, a crisálida e a lagarta (e ninguém afirma que a semente já seja a planta, a nuvem, a chuva, a lagarta, a crisálida, a crisálida, a borboleta). O elemento anterior como que tendo de se imolar para o nascimento do posterior. Donde não existir pessoa humana embrionária, mas embrião de pessoa humana, passando necessariamente por essa entidade a que chamamos “feto”. (Carlos Ayres Britto)

Mas as três realidades não se confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a pessoa humana. Esta não se antecipa à metamorfose dos outros dois organismos. É o produto final dessa metamorfose. (Carlos Ayres Britto)

Não vejo qualquer ofensa à dignidade humana o uso de pré-embriões inviáveis ou congelados que não teriam como destino senão o lamentável descarte. Estão fadados ao lixo sanitário. Dá-se-lhes, portanto, uma destinação nobre (Celso de Mello)

Esse notável voto [do relator] representa a aurora de um novo tempo, impregnado de esperança para aqueles abatidos pela angústia da incerteza (Celso de Mello)

O luminoso voto proferido pelo eminente ministro Carlos Britto permitirá a esses milhões de brasileiros, que hoje sofrem e que hoje se acham postos à margem da vida, o exercício concreto de um direito básico e inalienável que é o direito à busca da felicidade e também o direito de viver com dignidade, direito de que ninguém, absolutamente ninguém, pode ser privado. (Celso de Mello)


Na foto, Peluso, o incompreensível

2 comentários:

Thaise de Moraes disse...

Muito bom o post, as falas foram ótimas!
bjos

Anônimo disse...

Muito bom o texto.
concordo inteiramente contigo e sou da área técnica....


eles são realmente ridículo e nessa questão das células imitaram mediocremente as dicussões das cortes americanas...


triste